quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Cidades Turísticas do Rio de Janeiro: Quissamã

Por William de Assis

O jovem município de Quissamã, hoje com 23 anos, se encontra no Norte Fluminense do estado do Rio de Janeiro. Habitado por índios em seus primórdios, foi colonizado e teve uma forte produção monocultora de açúcar no século XIX. Acompanhe aqui, no nosso blog, um pouco da história deste acolhedor local.



Etimologia

Segundo o ''Roteiro dos Sete Capitães'' - escrito por Miguel Aires Maldonado e que conta fatos sobre um grupo de militares que receberam terras do Norte Fluminense e que ficaram encarregados de explorarem e colonizarem as mesmas - , o nome ''Quissamã'' foi dado para a região no ano de 1632. Tem sua origem relacionada ao vocábulo angolano ''Quiçama'', nação de onde vieram alguns escravos e que viviam libertos naquele território. Vale lembrar que denominações assim, originadas da África, são raras em municípios brasileiros.

Era grafado originalmente como ''Quissaman'', tendo, tempos depois, chegado a forma atual.

História

Exploração


No século XVI, quando do descobrimento do Brasil, o território que hoje compreende a área de Quissamã era povoado por índios Goitacazes. Esta porção de terra era pertencente à Capitania de São Tomé, bem na inicialização da colonização dos portugueses.

Ao ter sido esquecida por seu donatário e sem a efetiva participação dos europeus em sua exploração, sete capitães, também de Portugal, reivindicaram para si aquelas propriedades como forma de pagamento pelos esforços militares empreendidos contra a dominação francesa no norte do Rio de Janeiro e pelas guerras travadas com os holandeses.

O então governador da capitania do Rio, Martim Correa de Sá, atendeu aos pedidos dos militares e lhes deu as terras pedidas em 1627, terras estas configuradas desde o rio Macaé até o cabo de São Tomé, onde se incluía a atual Quissamã. Três anos depois houve um forte embate entre os índios Goitacazes e os Tupinambas, catequizados da Aldeia de São Pedro. Os primeiros foram sumariamente exterminados por frotas do exército português, fazendo com que Quissamã ficasse quase que totalmente vazia e, assim, possibilitando a sua posterior colonização.



Colonização

Todo o entorno começou a ser ocupado com a criação de fazendas de gado bovino, usando, para isso, mão-de-obra indígena. O líder dos sete capitães, Miguel Aires, projetou também currais, além de criar gado no sudeste da Lagoa Feia, perto da atual ''Barra do Furado'', que é considerada uma ilha. Em 1694 foi fundada a capela de Nossa Senhora do Desterro, fazendo surgir a povoação mais antiga presente entre Quissamã e Macaé.

Freguesia de Nossa Senhora do Desterro

Em 1732 foi levantada uma nova capela, agora na fazenda de Capivari. 17 anos depois, a mesma capela passou a ser igreja-matriz. Em 1755 um alvará promoveu a criação da freguesia de Nossa Senhora do Desterro do Capivari, que era subordinada a Campos dos Goytacazes.



Troca de freguesia

Com a igreja-matriz de Nossa Senhora do Desterro passando por um processo de deteriorização, houve uma troca de sua estrutura física para a capela da Casa da Fazenda Mato de Pipa. Nos arredores, uma nova ordem de moradores começava a ser estabelecida. Ao cumprir com uma promessa religiosa, o Brigadeiro José Coutinho edificou uma igreja-matriz, que teve sua construção estendida do ano 1805 até 1815.

Esta igreja ficava situada no mesmo local onde hoje se pode visitar a atual matriz de Quissamã, que foi terminada em 1924. Assim era fundada a freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Quissamã, o segundo núcleo mais antigo de pessoas do entorno e responsável pela origem do atual centro do município.

Monocultura da cana-de-açúcar



Com a crise mundial de açúcar de 1798, por conta da revolta dos escravos do Haiti, o capitão Manuel da Silva, dono da Fazenda Mato de Pipa, aproveitou para levantar o primeiro engenho de Quissamã. O ciclo da cana na região começou em 1650, tendo visto seu auge pouco mais de 100 anos depois. Antes da predominância deste tipo de cultura, eram produzidas plantações de algodão, café e anil. Foi durante o século XIX que a produção de venda e açúcar viveram sua época áurea, impulsionando inclusive a compra de escravos, utilizados como mão-de-obra.

Como foi de praxe durante toda a história brasileira, os que mais se aproveitaram desta situação foram as elites locais, fazendo com que o viés econômico lhes atribuíssem também um forte poder político dentro do país. Entre os que se destacaram dentro desta modalidade estava José da Silva, o primeiro a ser barão e visconde de Araruama. Precisando de novos caminhos que pudessem escoar a produção do açúcar, foi idealizado o canal Campos-Macaé.

Engenho Central de Quissamã



O primeiro engenho da América do Sul teve sua criação dada em Quissamã, através da sociedade entre os parentes do Barão e Visconde de Araruama, que financiaram a importação de equipamentos e inauguraram, assim, o Engenho Central de Quissamã, em 1877. Para escoar todo o volume de açúcar, surgiu também uma linha férrea, que ligou o Engenho Central a Estrada de Ferro Macaé e Campos. Foi por meio desta iniciativa que o governo imperial passou a subsidiar a construções de outros engenhos pelo Brasil.

Entrando no século XX, a concorrência da beterraba com o açúcar já dava sinais de enfraquecimento da produção deste, tendo como consequência a queda nas exportações brasileiras. O panorâma se desestabilizou ainda mais com a crise econômica mundial de 1929, ocasião que gerou um enorme endividamento dos fazendeiros, que perderam suas propriedades para o Engenho Central, monopolizador da produção a partir dali. Neste contexto, a cidade entrou em decadência e só se recuperou nos anos 1970, com o desenvolvimento da política do Proálcool.

Criação do Município



A descoberta de petróleo na Bacia de Campos possibilitou uma nova era de prosperidade e crescimento econômico em Quissamã, que aos poucos passou a deixar a figura do Engenho Central como a mais forte fonte de geração de renda da localidade. Com a população organizada em busca da emancipação, foi aprovado um plebiscito, no qual ficou decidido, no ano de 1988, o surgimento do município. O primeiro prefeito de Quissamã, Octávio Da Silva - bisneto do Visconde de Quissamã - foi empossado em novembro de 1989.

Meio Ambiente

Um dos pontos de maior destaque da cidade é o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, que ocupa 13% de toda a Quissamã. Conta com praias, lagoas, canais e muitas outras atrações naturais. Mais da metade do Parque se encontra dentro da região.



Infra-estrutura

O município conta com uma cobertura completa de saneamento básico de nível terciário para a toda população. O mesmo ocorre com a água tratada e o lixo coletado e reciclado, com incríveis 100% de efetividade. 90% das estradas vicinais são asfaltadas e todos os moradores contam com internet banda larga gratuita em toda a extensão territorial de Quissamã. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), formulado pela ONU, é de 0,732.

Economia



A verba vinda dos royalties de petróleo é a maior fonte de recursos econômicos para a região, que apresenta uma infra-estrutura bem desenvolvida graças a aplicação destes recursos em melhores condições de vida para a sociedade. Um dos maiores desafios administrativos de Quissamã hoje é conseguir se livrar da dependência gerada pela monocultura da cana-de-açúcar, não ganhando uma nova dependência, desta vez com o petróleo.

Novas formas de produção de agricultura estão sendo incentivadas pela prefeitura, tais como os plantios de coco, abacaxi e aipim. Inclusive, Quissamã é a maior produtora de coco do estado do Rio de Janeiro. Outra fonte que está sendo explorada é o turismo ecológico, histórico e rural, com o resgate de todo o patrimônio pertencentes a estes temas. Como exemplos, foram restauradas a Casa da Fazanda Quissamã, tendo surgido o Museu de Quissamã e o Parque Municipal; o complexo arquitetônico da Fazenda de Machadinha; a Casa da Fazenda Mandiquera.



Patrimônio Histórico e Cultural

São destaques da cidade os bem conservados prédios que abrigam a Casa da Fazenda Mato de Pipa de 1777 e a Casa da Fazenda Quissamã de 1826. Muitas fazendas também foram restauradas e servem de capítulo histórico para a cidade, como as de São Manoel, Santa Francisca, Melo, Floresta, entre outras. O apogeu da produção de açúcar na região faz com que o município tenha hoje um dos maiores patrimônios culturais do estado do Rio de Janeiro, mais especificamente no norte fluminense.


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